"Eu me sinto sozinho", ele disse, e fechou os olhos. Sentir-se sozinho era a forma única e mais segura que ele conhecia de se colocar em contato com seu eu mais secreto e vulnerável, aquele ao qual só conseguia acesso no escuro mais denso no qual podia se considerar invisível. "Eu me sinto sozinho e tenho saudade". Porque era afinal possível ter posse de um sentimento, mesmo de um que não sabia definir.
Essa era a hora em que ele removia o chão sólido e falso que dava acesso ao porão onde mantinha aprisionado o seu âmago, perigoso que era. E descia, sem objetivo em mente além de ficar num estado de meditativa contemplação em relação à sua contraparte. Porque prender também é uma forma de proteger.