sábado, 21 de janeiro de 2012

Essa minha necessidade do que é torrencial ainda vai me matar

Porque deve ser um defeito imperdoável o de não se contentar com metades. Viver insatisfeito até que se extraia de tudo seu máximo tem seus custos -- e a dificuldade de entender que é possível encontrar paz na simplicidade é um deles. Quando nenhum mergulho é profundo o suficiente qualquer regresso à superfície parece seco demais -- e na ânsia de atingir o fundo das águas, ignora-se todo o mundo que se estende por cima.

E acaba-se descartando um punhado grande de rios e lagos só por serem aparentemente rasos. Como se a infinitude fosse pré-requisito da felicidade.

No final, solidão e incompreensão: solidão que fica ao olhar para o lado e se ver desprovido de qualquer companheiro de insaciedade, e incompreensão de como é possível sobreviver na superfície depois de conhecer as profundezas do mundo e dos sentimentos.

(ignorando todas as vezes em que, no meio de uma tempestade, me pus a desejar qualquer coisa que me garantisse terra firme -- para me contentar não com metade, mas com qualquer milésimo de paz e calmaria)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sobre quedas e a coragem de se manter firme

So here's the truth about truth: it hurts. So we lie.¹

E eu continuo achando que existe algum motivo metamoralista para ainda existir uma raça psicológica que insiste em negar sua declarada extinção, mantendo-se agarrada à sua preferência pela verdade. Também acho que o motivo vai além do masoquismo: é questão de (in)segurança. A verdade, apesar de fornecer uma visão árida e dura, fornece um piso firme, enquanto a mentira, tão bela aos olhos e ouvidos, deixa as pernas trêmulas e sempre alertas ao perigo da queda. E nada, nada é pior que cair, sem saber a que distância fica o chão.

¹Meredith Grey 
(espécie de resposta a um post daqui, ó, outro blog indicadíssimo pra quem não ter medo de ler o mundo pintado com sensibilidade ímpar: http://manuscritodegaveta.blogspot.com/2009/07/e-depois-ha-o-alivio.html)