quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sobre a pressão do ensino

"Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova de física que recebera nota zero. O aluno dizia merecer nota máxima. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui escolhido.

Chegando à sala do meu colega, li a questão da prova: 'Mostre como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com o auxílio de um barômetro.' A resposta do estudante foi a seguinte: 'Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; esse comprimento será igual ao do edifício.'

Sem dúvida a resposta satisfazia o enunciado, e por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha respondido a questão, mas a resposta não comprovava conhecimento de física, que era o objeto da prova. Sugeri então que ele fizesse outra tentativa de responder a questão. Meu colega concordou prontamente e, para minha surpresa, o aluno também.

Segundo o acordo, ele teria 6 minutos para responder a questão, demonstrando algum conhecimento de física. Passados 5 minutos, ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida. Mas o estudante anunciou que não havia desistido. Ele estava apenas escolhendo uma entre as várias respostas que encontrara.

De fato, 1 minuto depois ele me entregou esta resposta: 'Vá até o alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado, solte o barômetro, medindo o tempo t da queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h = (1/2)g t², calcule a altura do edifício.' Nesse momento, sugeri ao meu colega que entregasse os pontos e, embora contrafeito, ele deu uma nota quase máxima ao aluno.

Quando ia saindo, lembrei-me de que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Não resisti à curiosidade e perguntei quais eram essas respostas. Ele disse: 'Ah! sim, há muitas maneiras de achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro. Por exemplo: num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando uma regra de três simples e direta, determina-se a altura do edifício. Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas tem-se a altura do edifício em unidades barométricas. Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade. Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, obtêm-se duas acelerações diferentes, e a altura do edifício pode ser calculada com base nessa diferença. Se não for cobrada uma solução física para o problema, existem muitas outras respostas. Minha preferência é bater à porta do zelador do prédio e dizer: "Caro Zelador, se o senhor me disser a altura desse edifício, eu lhe darei este barômetro".'

A essas alturas, perguntei ao estudante se ele sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava farto das tentativas do colégio e dos professores de dizerem como ele devia pensar."

Autor desconhecido. Corre uma versão de que o aluno teria sido Niels Bohr, e o árbitro, Lord Rutherford, ambos premiados com o Nobel, em 1922 e 1910, respectivamente. Do professor, nenhuma notícia.

Um comentário:

  1. Um blog novo que promete! Obrigada pela visita!
    Genialidade mesmo não é decoreba de fórmula e soluções, mas criação de infinitas possibilidades de respostas. Pra escola. Pra física. Pra vida.

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