domingo, 27 de junho de 2010

(Falsa) Letargia

"Às vezes eu deito na cama e fico quieta, só esperando morrer. E vem aquela bobeira estranha, como quando eu era criança e, de carro na Salgado Filho, me perguntava "Por que é que eu existo?" e me sentia fora do meu corpo. E como nunca achei resposta pra essa pergunta, só fico pacientemente vendo a vida passar, devagar.
E choro, porque queria viver de verdade e sentir de maneiras diferentes. Então durmo, acordo, penso nas coisas que tenho que fazer e saboto todos os planos: "Ah, não estou me sentindo bem hoje!" - o engraçado é que meu corpo obedece, e sempre tem uma dor ou desconforto, que nem sei mais se são de verdade. Mas fico com muito medo do que vai acontecer por eu só esperar, e então, prometo, amanhã eu tomo jeito.
O tempo voa, barulhento, anunciando que outro dia acontece e eu ainda estou aqui, com dor dentro do meu vazio e eu peço, grito: "Por favor, cuida de mim! Me carrega, me faz viver!" E do outro lado só ouço o eco do meu próprio desespero, porque os outros estão ocupados demais vivendo.
De repente a cama e o quarto são escuros demais, e eu só preciso de alguém pra me abraçar, me acalmar, me ninar. Por que é que eu tive a brilhante idéia de sair de casa mesmo? Tenho medo de ficar mais velha e da minha mãe morrer, porque não sou pequena (muito menos grande) demais pra caber no colo dela. Então eu rezo à noite, só pra me sentir mais perto, pra me sentir um pouquinho mais amada, menos insegura.
Esse pedacinho de gente que sou, preciso de amor demais, abraço demais, e o mundo não está sempre à minha disposição. Acho que de tanto eu esticar e comprimir, das vezes em que eu achei que era auto suficiente e me rebelei, ele se tornou frouxo demais pra mim. E eu choro, imploro, "Vem pra cá, por favor, cuida de mim!" E se alguém me responder, vai ser pra dizer que não, agora não, a vida lá fora é bem mais interessante do que ficar deitado na cama, olhando e tentando não fazer parte do mundo."
Do ótimo: http://inconspicuidade.blogspot.com/

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