sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Sea lo que quera Dios que sea

Dói tanto. É um grande desespero. O desespero de saber-se há muito preparado para um momento que não chega. Estou plenamente preparado para o amor mas nunca me ensinaram a me preparar para a preparação do amor. Estou pronto para um lugar onde não sei chegar. Sou como um atleta preparado para os Jogos Olímpicos a quem ninguém disse que ninguém nasce lá dentro. E que não sabe as regras da classificação. Mas que sobretudo não sabe esperar. Porque todo instante que passa te aproxima da morte e esperar também é morrer um pouquinho. E não estou pronto pra morrer. Passei toda a vida acreditando que qualquer um sempre estava pronto pra morrer mas agora sei que não: é necessário um grande ritual. E estou pronto para o amor, não para a morte. Mesmo que não saiba como fazê-lo nascer.

Ou será o amor uma ressuscitação? Será que todo o sentido da infinita espera seja justamente o de deixá-lo morrer para que renasça, novo e puro, como que das cinzas? Então morra logo, amor, morra logo para que eu possa assistir já o espetáculo do ressurgimento. Não sei esperar. E a preparação para o que não chega é inútil. Portanto morra logo, enquanto estou vivo e ainda há tempo. Tempo de quê? Não sei, tempo. Só se sabe o que fazer com um brinquedo quando se olha pra ele, antes disso qualquer planejamento é inútil. Uma vez esperei por muitos anos (veio daí meu ódio pela espera?) um presente e planejei cuidadosamente todas as formas de usá-lo antes mesmo de tê-lo em mãos. Tinha em mente anos de ocupação -- tudo absolutamente vão. Finalmente recebi-o e não sabia mais o que fazer com ele -- tinha-o esgotado em pensamento. Mas não tinha importância: passei a olhá-lo com calma -- porque sei ter calma sem espera -- e percebi nele milhões de novos detalhes que meu pensamento nunca seria capaz de captar, sozinho. E inventei inesgotáveis milhões novas formas de brincar.

Vou explicar: meu ódio da espera vem da sensação de impotência: o que se pode fazer esperando? É uma agonia tão grande a da expectativa. Estou por exemplo há tempos esperando uma viagem que não chega nunca. E o desespero não é nem o de ir embora porque esse eu não o tenho. O problema é o status social de quem espera: o de um amputado. De repente você se vê fora de todos os planos, como se a iminência da partida fosse razão para exclusão -- decidem que é e pronto, estou invalidado. Como se a espera te impossibilitasse de assumir compromissos: eu que vou embora e os outros que têm medo. Pois digo uma coisa: deixem um pouco de ansiedade pra mim também. Porque, apesar do ditado, a partida não é mais fácil pra quem vai do que pra quem fica: a ruptura é recíproca.

3 comentários:

  1. Eu posso te dar trabalho, darling. Eu só não sabia que cê queria tanto. =D

    E curioso porque eu caí nesse vídeo aqui exatamente ontem: http://www.youtube.com/watch?v=paEctMTEOr0

    (Caí porque fui ver esse: www.youtube.com/watch?v=-AhBRQkszdw)

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  2. Foi tão direto na minha alma e no meu momento, que me fez chorar.

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  3. Texto incrível Pomps! Parabéns!E sinceramente, me trouxe a mesma sensação intensa de quando leio Clarice :)

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