quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Paranoias

‎"Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem. Tenho regressões a estados antigos, às vezes, mas reajo, procuro me manter ligado às coisas novas que descobri."

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois?

"Eu teria um trabalhão pra conseguir te acordar e talvez a gente passasse o dia todo fazendo nada. E, talvez, ficando mais velho, você entendesse o meu medo de envelhecer e não entender a vida, mas mesmo assim daria risada de mim e diria que eu sou engraçada. Então você cozinharia só pra tentar me convencer que era o melhor cozinheiro do mundo e só pra contrariar eu diria que não gostei - e você ia ficar bravo e então seria a minha vez de dizer que você é engraçado. Entre brigar e dar risada, a gente faria planos e você pediria pra casar comigo - e eu diria não, só pra depois poder pedir pra casar com você.
Mesmo que hoje não possa ser assim, fico feliz que tenha sido durante três anos. Um dia vai ser de novo, não importa o quanto a gente precise esperar."
  Porque certas coisas só acabam por fora. Continuam existindo, mesmo sem ninguém ver...
 [o trecho é uma mensagem da Jul (http://inconspicuidade.blogspot.com/), escrito pra (tentar) amenizar a saudade do namorado.]
[e olha só um exemplo de um caso em que a matemática falha: metade de dois não é um: é menos, bem menos]

domingo, 25 de setembro de 2011

Eco

E aí a pergunta: quando sua certeza fica frente à frente com a certeza do mundo, como não desistir?

[Porque nem toda a certeza do mundo pode me provar errado (a verdade não é democrática).]

[Mas e se o errado for eu?]

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Metonímia

"Faz frio, muito frio. E sol! Nem tanto sol. Os braços e os calos dos outros vão passando. Caminham pausadamente. Em alguma mente por aí está a mente de alguém. Um na mente do outro, um nas pernas do outro e no peito.
E passam os cabelos das pessoas diante de mim. Não são delas, são dela. Vêm os óculos de uma moça. São dela. Vêm os dedos de um rapaz. São dela.
É dela o coração de qualquer um que passe. O seu coração é todos mais o seu. O seu coração é inclusive o meu.
Em mim vão os trechos dela. Pedacinhos de gente que nela, só nela, são uma gente - e, ainda, todas as outras. Todos os tamanhos e cores de olhares, todos os dentes e pelos e peles. Aquilo que passar por mim terá um quê daquele todo.
Seja um cão alegre, meio malandro. Seja um gato gatuno. Seja uma mosca muito ágil, uma aranha cheia de olhos, uma pedra pensativa, uma folha em branco, um livro, uma música, um poema, o nome de minha irmã.
Sejam as roupas de um colega, o sabor do chá e do café, um par de chinelos. Cerveja. Vinho. Chocolate. Desordem pura, pura felicidade. Seja o meu joelho, a minha unha, as orelhas de uma amiga, um nariz de alguém. Tudo será ela, e tem sido. Decidido e imperativo.
A não ser a boca, que, como aquela, não há em parte alguma."

(texto descaradamente extraído do ótimo blog da querida Giulia De Conti: http://gdeconti.blogspot.com/2011/09/metonimia.html . Minha contribuição se limita a divulgar -- e a verter algumas palavras para o feminimo, em pequena adaptação)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre a insônia

Insônia é apenas uma forma de protesto do meu corpo por estar há tanto tempo longe do seu.

domingo, 11 de setembro de 2011

O pesadelo da felicidade

”(…) O que seria de nós, não é, se fôssemos, de fato, felizes? Já imaginou como isso nos deixaria perplexos, desarmados, mirando ansiosamente em volta em busca de uma desgraça reconfortadora, como as crianças procuram os sorrisos da família numa festa de colégio? Viu por acaso como nos assustamos se alguém, genuinamente, sem segundos pensamentos, se nos entrega, como não suportamos um afeto sincero, incondicional, sem exigência de troca? (...)"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Quando o perigo não é óbvio

Expectativas movem o mundo. Nossas ações são retroinfluenciadas pela recepção que o mundo dá a elas: estamos sempre esperando um retorno, uma resposta, alguma reação que nos oriente sobre estar ou não no caminho certo. Presenteamos esperando um agradecimento; acariciamos esperando receber carinho; ofertamos uma amizade sincera na expectativa de não sermos abandonados nos momentos de necessidade; amamos para sermos amados.

E, da mesma forma que a nossa convivência com o mundo é recheada de expectativas, vale a recíproca: relacionar-se é estar sujeito ao que as pessoas esperam de você. Esperam de tudo: sinceridade, apoio, compromisso. Principalmente compromisso. Não só compromisso conjugal, mas compromisso com o discurso, com as promessas feitas e com os valores. Porque alguém que não é fiel aos próprios valores não pode ser fiel a coisa alguma.

O problema é que essa é das expectativas mais difíceis de corresponder. Não por ser difícil se ater a promessas e sentimentos e valores, mas porque é extremamente complicado mostrar que eles foram honrados. De que adianta se ater fielmente ao roteiro quando a demonstração falha e ninguém repara na profundidade da fidelidade?

[Não temos na vida muitas grandes oportunidades para colocar à prova nossos sentimentos e nossa determinação. Em vez disso, eles são extensivamente testados diariamente, por meio de episódios pequenos, singelos, quase disfarçados. E aí é muito, muito mais difícil passar nos testes. Porque um inimigo grande e caricatural desperta nossa atenção para o perigo e a sede de epopeia que cada um guarda dentro de si aparece, dando novo ânimo para a luta; mas quando o inimigo é pequeno... ele passa despercebido. E é muito mais fácil fazer alguém abdicar de valores e preceitos auto-impostos quando o episódio é banal: é quase como se não estivéssemos abrindo mão, sabe? Afinal, é só dessa vez. Quando importar de verdade, eu não vou ceder.]

Mas são as coisas pequenas que importam.