sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Quando o perigo não é óbvio

Expectativas movem o mundo. Nossas ações são retroinfluenciadas pela recepção que o mundo dá a elas: estamos sempre esperando um retorno, uma resposta, alguma reação que nos oriente sobre estar ou não no caminho certo. Presenteamos esperando um agradecimento; acariciamos esperando receber carinho; ofertamos uma amizade sincera na expectativa de não sermos abandonados nos momentos de necessidade; amamos para sermos amados.

E, da mesma forma que a nossa convivência com o mundo é recheada de expectativas, vale a recíproca: relacionar-se é estar sujeito ao que as pessoas esperam de você. Esperam de tudo: sinceridade, apoio, compromisso. Principalmente compromisso. Não só compromisso conjugal, mas compromisso com o discurso, com as promessas feitas e com os valores. Porque alguém que não é fiel aos próprios valores não pode ser fiel a coisa alguma.

O problema é que essa é das expectativas mais difíceis de corresponder. Não por ser difícil se ater a promessas e sentimentos e valores, mas porque é extremamente complicado mostrar que eles foram honrados. De que adianta se ater fielmente ao roteiro quando a demonstração falha e ninguém repara na profundidade da fidelidade?

[Não temos na vida muitas grandes oportunidades para colocar à prova nossos sentimentos e nossa determinação. Em vez disso, eles são extensivamente testados diariamente, por meio de episódios pequenos, singelos, quase disfarçados. E aí é muito, muito mais difícil passar nos testes. Porque um inimigo grande e caricatural desperta nossa atenção para o perigo e a sede de epopeia que cada um guarda dentro de si aparece, dando novo ânimo para a luta; mas quando o inimigo é pequeno... ele passa despercebido. E é muito mais fácil fazer alguém abdicar de valores e preceitos auto-impostos quando o episódio é banal: é quase como se não estivéssemos abrindo mão, sabe? Afinal, é só dessa vez. Quando importar de verdade, eu não vou ceder.]

Mas são as coisas pequenas que importam.

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