domingo, 28 de novembro de 2010

Sobre vitórias e derrotas

Nota de Esclarecimento: esse originalmente era um comentário meu (ou, mais precisamente, uma redação) sobre o post Da busca à perfeição, trazido pra cá por sugestão da própria autora, a genial Daniela Yoko. Não deixe de ler o original!

Outro dia eu estava discutindo com amigos, tentando chegar em alguma conclusão sobre os motivos de a matemática ser um dos maiores terrores de boa parte dos estudantes, quando um deles levantou um ponto interessantíssimo, falando do processo de aprendizado de matemática. Enquanto na física ou na química (pra ficar nos exemplos de exatas, mais próximos) você aprende uma fórmula ou um método de resolução de problemas e o aplica à exaustão em problemas essencialmente parecidos, na matemática a coisa funciona diferentemente: frequentemente poucos exercícios que você demora horas pra resolver são muito mais proveitosos que milhões de exercícios resolvidos de forma simples. Uma vez, numa aula de geometria, um professor me disse que tinha um problema que tentava resolver há anos, sem nenhum sucesso -- um problema que vários de seus colegas já tinham resolvido e cuja resposta outros tantos conheciam. Perguntei por que ele não perguntava a eles a resposta e ele respondeu: "Pra quê? Aprendi mais geometria com esse exercício do que com qualquer livro que já tenha pegado pra estudar."

O aprendizado da matemática, mais do que de outras disciplinas, se pauta no erro: e não porque errando você aprende as "armadilhas" de cada tipo de exercício, mas porque errando, brincando com os exercícios, é que você percebe propriedades e padrões que aumentam o seu conhecimento e o seu entendimento da matemática. Enquanto em física e química a obtenção da resposta é o passo principal da resolução, na matemática a ousadia de tentar abordar o problema de diferentes formas é o cerne do aprendizado -- chegar na resposta só prova que a ideia, plantada várias linhas antes, era correta. Outro grande professor me disse o seguinte: "Nunca abandone um exercício por parecer difícil nem o troque por outro que você seja capaz de resolver mais facilmente: encontrar a resposta de um problema é o passo mais triste da busca -- significa que com aquele você não tem mais nada a aprender."

A conclusão, tardia, foi exatamente a sua: não nos ensinaram a perder. E aí a matemática se transforma num monstro quando, junto com os problemas e os métodos para resolvê-los, não aprendemos que falhar -- e continuar tentando -- é parte inerente da vida.

3 comentários:

  1. " o menino escreve tão bem que, mesmo começando a ler com preguiça, o texto prende a gente" - palavras da minha mãe, que te adora! :)

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  2. "encontrar a resposta de um problema é o passo mais triste da busca -- significa que com aquele você não tem mais nada a aprender.". Que sabedoria do seu grande professor...

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