sábado, 17 de dezembro de 2011
Apenas uma trégua
domingo, 4 de dezembro de 2011
Escapismos
Porque sacrifícios, na realidade, dificilmente resultam em muito mais do que alguém machucado.
Mas às vezes sinto uma necessidade urgente de uma dose de realidade e as histórias voltam todas a me pintar como um jovem velho e desiludido, procurando motivos pra seguir acreditando, seguindo uma rotina sem rumo e de vez em quando te emocionando com textos bonitos como os que eu não escrevo. No fim você acaba voltando também, quase como se a distância que se pôs entre a gente não fosse oceânica e como se todas as dores da separação sumissem de repente num beijo ou pranto emocionado.
E quem pode julgar essa história de algum modo mais ou menos realista do que as outras?
sábado, 26 de novembro de 2011
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Fome de fome
Só tem (mas vazio) o lugar que abriu em tua vida a sua própria falta.
A dor que te dói pelo avesso, perdida nos teus escuros,
É como alguém que come não o pão, mas a fome
(...)"
domingo, 30 de outubro de 2011
Quites
sábado, 15 de outubro de 2011
De mim, para mim, sobre você
Outros tentam dizer que o lugar não existe, que tudo acaba nem que seja por meio forçoso da morte. Que eu perco a vida perseguindo uma ilusão. Mas que é a felicidade senão a própria ilusão da felicidade? São das coisas que têm um fim em si próprio: não importa que acabem, importa que existiram.
E eu me perdi do assunto, de novo. Do que eu falava, mesmo? De você, da sua partida, da falta que faz. Só falo disso, mesmo. Você me deixou com uma falta de variedade de assuntos que só escancara minha necessidade de você. E não me venha com "veja só, não há necessidade alguma, olhe como está sobrevivendo bem" porque eu bem disse viver e não sobreviver. Pra sobreviver a gente só precisa mesmo é de pão e água e se eu quisesse embarcar de vez nessa existência despretensiosa eu já tinha abandonado de vez todos esses pequenos luxos que só servem pra mascarar a falta de você. Mas não, eu quero mais: minha ambição é insaciável porque só se satisfaz com você e nada pode compensar a sua ausência. E é tão insaciável a ponto de não se satisfazer nem com você: mesmo sua presença é insuficiente pra matar a saudade que você deixa. O necessário é aumentar a dose e se deliciar, mais, com você. Rumo a uma overdose que nunca chega.
E aí eu me preocupo, não só comigo, mas com você também. Não acredito que você sinta falta de mim como eu sinto de você (não seria nem possível), mas a minha preocupação é muito mais visceral do que com o seu bem-estar: eu sei que você vai indo, se achando e vivendo com a desenvoltura que sempre teve. Não, não duvido que esteja bem. Só me causa ânsia a ideia de a desilusão ter te encontrado e você ter perdido, de vez, a esperança de as coisas funcionarem. Não, não comigo (ou comigo também), mas de um modo geral, sabe? Ter perdido o paladar para o lado bom da vida. É tão triste uma mulher desiludida. E você é tão bonita. De gente que vive sem motivo o mundo tá cheio: valho por mil. E sim, estou exagerando, como sempre, mascarando a flama interna que me guia e que secretamente não me afasta de você. Tenho motivo e é claro e transparente, um grito agudo e estridente pra quem quiser ouvir: vo-cê. As três letras que enchem o mundo de sentido e de propósito.
O problema é que eu sou fraco, cedo à dor com facilidade. Não consigo simplesmente seguir em frente, esquecer você, deixar toda essa nossa longa história de lado. Você também não colabora: decidiu se mudar e morar aqui do lado, uma casa no peito e um apartamento bem no meio de cada um dos meus pensamentos. Bem no meio, mesmo: porque cada coisa que eu tenho que fazer exige que eu te contorne, faça um esforço grande pra desviar de você. Mas no final o esforço é mesmo inútil e eu sempre acabo esbarrando em você. Entro pra tomar um café, comer um bolo, pensar no passado. E acabo ficando.
E lembrando de como você é fechada, como se esconde. Como se tivesse uma beleza única demais pro mundo entender. Uma beleza enigmática e especial, delicada, cheia de medo de chocar as pessoas com seu poder. Tão grande. O mundo todo, coitado, só vê a casca, inconsciente da maravilha que jaz abaixo. Uma rosa em botão, eternamente esperando o momento de florescer. Quem já viu um botão de rosa sabe: é lindo por si só, com uma cor viva e característica e um aroma inebriante. Mas quando floresce... nem o botão mais bonito é capaz de rivalizar com a perfeição do que nasce. E ser capaz de ver a flor! Isso é realização pra uma vida toda. Esse é o tamanho da marca que você deixou.
Você vai dizer que eu tô fingindo, exagerando. E eu bem queria que essa dor fosse mesmo de faz-de-conta.
Então eu passo algum tempo me perguntando, imaginando, de novo, se algum dia você vai chegar a ler isso. Se vai ficar brava ou sentir um pingo de nostalgia. Ou continuar indiferente. Você nunca lê nada do que eu te escrevo, mesmo, né? Mas vai que alguém, alguma amiga ou irmã ou tia ou avó ou até vizinha -- acaba lendo e te enxergando e decidindo te mostrar. Não. Tudo acaba sendo sempre um grande monólogo. De mim, para mim, sobre você. Você que é minha perdição e ao mesmo tempo uma condição. Minha condição.
Este que não é só um monólogo, mas um verdadeiro manifesto -- só não sei bem do quê: talvez da esperança, talvez do idealismo, talvez do amor.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
De mim para mim IV: esta noite
daqui a 50 anos quando as garotas já tiverem ido',
meu editor me telefona.
caro editor:
parece que as garotas já se
foram.
entendo o que o senhor diz
mas me dê uma mulher verdadeiramente viva
nesta noite
cruzando o piso em minha direção
e o senhor pode ficar com todos os poemas
os bons
os maus
ou qualquer outro que eu venha a escrever
depois deste.
entendo o que o senhor me diz.
O senhor entende o que eu digo?"
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
De mim para mim III - A Injustiça
E o como, e o por onde.
Toquei muito cedo toda a injustiça.
A fome não era só fome.
Mas a medida do homem
O frio, o vento eram também medidas.
Mediu cem fomes e caiu o levantado.
E nos cem frios foi enterrado Pedro.
Um só vento durou a pobre casa.
Aprendi que o centímetro e o grama,
colher e légua mediam a cobiça,
e que o homem assediado caía depressa
para um buraco, e já não mais sabia.
Não mais, e esse era o lugar,
o real presente, o dom, a luz, a vida,
isso era, padecer de frio e fome,
e não possuir sapato e tremer
frente ao juiz, frente ao outro,
a outro ser com espada ou com tinteiro,
aos empurrões cavando e cortando, assim,
fazendo pão, colhendo o trigo, a coser,
pregando cada prego que pedia madeira,
à terra penetrando como ao intestino
para tirar, às cegas, carvão crepitante
e mais ainda, subindo rios e cordilheiras,
cavalgando cavalos, movendo barcaças,
cozendo telhas, soprando vidros, lavando roupa,
de tal maneira que pareceria
tudo isto o reino recém levantado,
uva resplandecente no seu cacho,
quando o homem se decidiu a ser feliz,
não era, não assim. Fui descobrindo
a lei da desventura,
o trono de ouro ensanguentado,
a liberdade alcoviteira,
a pátria sem abrigo,
o coração ferido e fatigado,
e um rumor de mortos sem lágrimas,
secos, como pedras que caem.
E então deixei de ser menino
porque compreendi que para o meu povo
não lhe permitiram a vida
e lhe negaram sepultura."
De mim para mim II - já vi mendigos demais com os olhos vidrados bebendo vinho barato debaixo da ponte
De mim para mim I - Sobre a Insônia
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar."
domingo, 9 de outubro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
Contra a corrente
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Paranoias
"Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem. Tenho regressões a estados antigos, às vezes, mas reajo, procuro me manter ligado às coisas novas que descobri."
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois?
"Eu
teria um trabalhão pra conseguir te acordar e talvez a gente passasse o
dia todo fazendo nada. E, talvez, ficando mais velho, você entendesse o
meu medo de envelhecer e não entender a vida, mas mesmo assim daria
risada de mim e diria que eu sou engraçada. Então você cozinharia só pra
tentar me convencer que era o melhor cozinheiro do mundo e só pra
contrariar eu diria que não gostei - e você ia ficar bravo e então seria
a minha vez de dizer que você é engraçado. Entre brigar e dar risada, a
gente faria planos e você pediria pra casar comigo - e eu diria não, só
pra depois poder pedir pra casar com você.
Mesmo que hoje não
possa ser assim, fico feliz que tenha sido durante três anos. Um dia vai
ser de novo, não importa o quanto a gente precise esperar."
Porque certas coisas só acabam por fora. Continuam existindo, mesmo sem ninguém ver...
[o trecho é uma mensagem da Jul (http://inconspicuidade.blogspot.com/), escrito pra (tentar) amenizar a saudade do namorado.]
[e olha só um exemplo de um caso em que a matemática falha: metade de dois não é um: é menos, bem menos]
domingo, 25 de setembro de 2011
Eco
[Porque nem toda a certeza do mundo pode me provar errado (a verdade não é democrática).]
[Mas e se o errado for eu?]
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Metonímia
E passam os cabelos das pessoas diante de mim. Não são delas, são dela. Vêm os óculos de uma moça. São dela. Vêm os dedos de um rapaz. São dela.
É dela o coração de qualquer um que passe. O seu coração é todos mais o seu. O seu coração é inclusive o meu.
Em mim vão os trechos dela. Pedacinhos de gente que nela, só nela, são uma gente - e, ainda, todas as outras. Todos os tamanhos e cores de olhares, todos os dentes e pelos e peles. Aquilo que passar por mim terá um quê daquele todo.
Seja um cão alegre, meio malandro. Seja um gato gatuno. Seja uma mosca muito ágil, uma aranha cheia de olhos, uma pedra pensativa, uma folha em branco, um livro, uma música, um poema, o nome de minha irmã.
Sejam as roupas de um colega, o sabor do chá e do café, um par de chinelos. Cerveja. Vinho. Chocolate. Desordem pura, pura felicidade. Seja o meu joelho, a minha unha, as orelhas de uma amiga, um nariz de alguém. Tudo será ela, e tem sido. Decidido e imperativo.
A não ser a boca, que, como aquela, não há em parte alguma."
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Sobre a insônia
domingo, 11 de setembro de 2011
O pesadelo da felicidade
”(…) O que seria de nós, não é, se fôssemos, de fato, felizes? Já imaginou como isso nos deixaria perplexos, desarmados, mirando ansiosamente em volta em busca de uma desgraça reconfortadora, como as crianças procuram os sorrisos da família numa festa de colégio? Viu por acaso como nos assustamos se alguém, genuinamente, sem segundos pensamentos, se nos entrega, como não suportamos um afeto sincero, incondicional, sem exigência de troca? (...)"
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Quando o perigo não é óbvio
O problema é que essa é das expectativas mais difíceis de corresponder. Não por ser difícil se ater a promessas e sentimentos e valores, mas porque é extremamente complicado mostrar que eles foram honrados. De que adianta se ater fielmente ao roteiro quando a demonstração falha e ninguém repara na profundidade da fidelidade?
Mas são as coisas pequenas que importam.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Intermitência
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Mosaico
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Metagostar
domingo, 21 de agosto de 2011
Realismo
(E enquanto o medo do sofrimento ditar os rumos do futuro, não preciso dizer que não há nada de realmente bom a se esperar, né?)
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Inércia 2
Será que a minha incapacidade de ir a lugar algum já é tão explícita que passou a beirar o ridículo?
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Inércia
sábado, 13 de agosto de 2011
Autonomia
Como se o seu caminho não pudesse ser só seu.
domingo, 10 de julho de 2011
Atalhos corruptos
Porque nem só de lógica vive o mundo. E na ilogicidade das ações e dos fatos reside a vida, em seu âmago. Em cada ato impulsivo, impensado, em cada suspiro desesperado. Em cada instante de escapismo.
E eles são muitos! Viver é caminhar na realidade se apoiando em momentos de fuga. Só não ficou claro ainda se se dá melhor quem tenta se apoiar o menos possível ou quem passa todo o tempo debruçado sobre o que quer que lhe sirva como distração. Afinal, se o que vale é o caminho e não o destino, alienar-se sobre o trajeto como forma de encontrar felicidade-mesmo-que-passageira é ação válida.
Mas não deveria ser. Pois a procura demasiada por atalhos faz perder de vista a estrada principal. E então a vida passa a se resumir a travessas que, desconexas, salientam a efemeridade do desvio, incapaz que é de preservar um rumo e fornecer algo mais que instantes fugidios de felicidade custosa.
Porque você precisa, pelo menos uma vez na vida, se perguntar:
Por que eu vivo?
Mesmo que não encontre resposta.
[E Deus!, eu não faço o sentido que cobro dos outros. Quão culpado devo ser por isso?]
terça-feira, 21 de junho de 2011
Neo-idealismo
Toda ideologia passa por mudanças.
Nasce de experiências, vai sendo lapidada por valores e sonhos, e, incubada, vai vagarosamente ganhando espaço. A partir daí, toda evolução e transformação ideológica dá-se por um processo dialético hegeliano -- algo como a noção de tese-antítese-síntese popularizada por Kant, mas mais claramente compreendido se tomarmos o conceito como concebido originalmente por Hegel: o Abstrato (a ideologia pura), sucedido pela Negação (o contato com a realidade) e sintetizando o Concreto (o substrato resultante). Dá-se, simples e necessariamente, porque toda ideologia se transforma. Ideologia imutável é ideologia nunca posta em prática.
Todo idealista sofre de um mal crônico: ingenuidade excessiva. Quer sempre acreditar que é possível, quer sempre acreditar nas pessoas, quer sempre que tudo seja perfeito. E não só quer, mas se esforça verdadeiramente para que as coisas aconteçam desse jeito (não, quem só acredita que tudo pode ser melhor não é idealista: é simplesmente otimista. O idealismo pressupõe ação). Mas, como nada é bom se não for ótimo, é comum ver oportunidades esvaindo-se sem que sejam aproveitadas. Pra tudo é necessário um ritual, tudo o que tem alguma importância é meticulosamente planejado e revisitado em pensamento incontáveis vezes antes de ser posto em prática. E, frequentemente, se há algum indício de que o plano não atingirá o grau de perfeição imaginado, adia-se sua realização, como se nenhuma falha fosse tolerável. O pecado do idealista é o cerimonialismo.
Então perde-se muito na vida até que se aprenda a deixar esse vício pra trás. Até que se perceba que oportunidades não esperam por situações ideais para aparecerem. Até que se perceba que, se não aproveitadas do jeito em que batem na sua porta, por mais maltrapilha que seja sua situação, vão procurar outro que melhor as use. Até que se perceba que o que torna um momento especial não é o quanto ele foi planejado ou quanto fidedigno ao roteiro ele provou ser, mas a sinceridade dos sentimentos envolvidos e as pessoas que participaram dele.
("Mas você mesmo é um grande fugitivo.", eu ouvi hoje. Devo ser mesmo.)
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Idealismo
Saber que há tudo. E mover-se em meio
A milhões e milhões de formas raras,
Secretas, duras. Eis aí meu canto.
Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem."
(Porque essa é das melhores definições de idealismo.)
Never-vanishing memories
Melhor se fosse assim, né? Se sempre quem tivesse longe não despertasse saudade e que todo término fosse indolor. Que não ficassem lembranças que, apesar de doces, despertam aquela pontinha (às vezes não tão pequena assim) de tristeza por terem ficado pra trás. Mas Caio, as pessoas que, quando não vistas, não são lembradas, são as coadjuvantes da nossa história. As protagonistas se fazem lembrar. Sempre. Até mais do que se gostaria...
Je t'aime
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Sobre a infinitude do amor
-- Por que você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
-- Não, eu falei no passado!
-- Curioso, né? É a mesma conjugação.
-- Que língua doida! Quer dizer que nós estamos condenados a amar para sempre?
-- E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações...
-- Pensar assim me assusta.
-- Por quê? Você acha isso ruim?
-- É que nessas coisas de amor eu sempre doo demais...
-- Você usou o verbo 'doer' ou 'doar'?
-- (Pausa) Pois é, também dá no mesmo..."
(em sequência ao último post)
PS: não encontrei o autor, por isso não creditei. Google tem referências cruzadas sobre o assunto. Se alguém souber, com certeza, quem é, me conta que eu atualizo os créditos (:
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Sobre a finitude do amor
(Primeiro vem a citação de alguns trechos. Depois, faço comentários. Recomendo a leitura do artigo inteiro. E, ah! Os grifos são meus, claro.)
"Quanto tempo passa entre a troca encantada de olhares e o momento que você repara nos defeitos do seu amor?
Para o senso comum, a prova de fogo vem na "crise dos sete anos". Uma expressão popular nos Estados Unidos diz que após esse tempo, a coceirinha, a "seven year itch", começa a incomodar o casal.
Já um psicólogo evolucionista chutaria que o prazo de validade do amor gira em torno de quatro anos -o suficiente para que o homem ajude a mulher a cuidar da criança, até que essa esteja apta a seguir por conta própria na tribo nômade.
Mas um levantamento feito em cerca de 10 mil residências nos EUA pela Universidade de Wisconsin encontrou um tempo de duração ainda menor do amor: três anos.
É o mesmo tempo apontado em estudo patrocinado pelo estúdio Warner Brothers, feito com 2.000 adultos no Reino Unido. Foram comparados casais em relações curtas (menos de três anos) e longas (mais de três). No primeiro grupo, 52% afirmaram gostar das relações sexuais. No segundo, apenas 16%.
É claro que, nesses estudos, amor e paixão foram considerados sinônimos.
(...)
A atuária Luiza Ferreira, 28, de Brasília, trabalha com números, mas não sabe quantificar quanto dura o amor. Só sabe que o sentimento é passageiro. "Meus pais se separaram quando eu era pequena", explica.
(...)
O supervisor mecânico Fernando Vicente, 50, e a professora Sílvia, 45, estão casados há 26 anos. Dizem nunca ter passado por uma crise.
"Se ela não é minha alma gêmea, é a mais próxima disso", diz Vicente. Mais da metade dos amigos deles já se separaram, acrescenta.
MONOGAMIA SERIADA
O cineasta Roberto Moreira, 50, diz que o amor pode ser eterno, "mas a probabilidade é pequena."
Para ele, relacionamento que dure mais de dez anos é um "sucesso".
Moreira lançou em 2009 o filme "Quanto Dura o Amor?", que narra a busca melancólica de uma atriz, uma advogada e um escritor por um amor que dure.
"Talvez o melhor título fosse 'Quanto Dura a Paixão?', porque o amor só vem quando o outro deixa de ser uma projeção sua", afirma.
No filme, os amores são tão efêmeros quanto as relações na cidade. "O final é pessimista, mas mostra que muitas pessoas podem crescer com o amor", diz Moreira.
Professora de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais e autora de "Reinvenções do Vínculo Amoroso" (Ed. UFMG), Marlise Matos não despreza a dimensão biológica --e mais efêmera-- do amor. Mas se concentra na dimensão que é pura construção social. "O amor pós-moderno é a possibilidade de dissolução."
O psicanalista Francisco Daudt, colunista da Folha, diz que vivemos um tempo de "monogamia seriada".
"É poligamia disfarçada. Cumprimos o papel de polígamos, mas com uma pessoa de cada vez.""
É engraçado como existem pessoas que dedicam tempo e dinheiro em pesquisas que tentam provar que o amor não existe -- como se não bastasse a tristeza da própria desilusão, há a necessidade de convencer todo o resto do mundo a ser desiludido também. É um comportamento semelhante àquele de crianças birrentas que, obrigadas a compartilhar um brinquedo, preferem quebrá-lo a emprestá-lo a alguém: "se eu não tenho, ninguém pode ter".
O esforço por si só é digno de nota, mas atenhamo-nos aos meios: tão desesperada era a ânsia de demonstrar a tese que o resultado foi uma dissertação completamente falaciosa. Logo após a apresentação da pesquisa, é citado que não houve distinção entre paixão e amor (claro, duas coisas idênticas, como todos sabemos), para depois, durante toda a apresentação das entrevistas, serem tratados como as coisas distintas que são. Ok, as entrevistas são uma parte da reportagem e a pesquisa, outra; mas não se pode "validar" o resultado de uma pesquisa com experiências se elas se baseiam numa interpretação diferente da que foi usada durante a coleta de dados.
Além disso, o título chama a atenção: "Amor acaba antes da 'crise dos sete anos', dizem estudos". Acaba? Por quê? Porque umas tantas pessoas não tiveram relacionamentos duradouros? Mas a própria reportagem encontrou um contra-exemplo! O casal Fernando e Sílvia estão casados há 26 anos e, além disso, relatam nunca ter passado por uma crise. Então eles estão mentindo? Ok, suponha que estejam. Diferentemente do que parece ser crença comum, exemplos não provam nada. Você pode não conhecer nenhum portador de HIV, nenhum apoiador do Bolsonaro, ninguém que goste de ópera ou que tenha vindo do Acre -- o que, de maneira alguma, significa que eles não existam. O que mostra que nenhuma pesquisa, já realizada ou a ser realizada, vai provar coisa alguma - do mesmíssimo jeito que ninguém nunca vai demonstrar que Deus não existe. Pesquisas só refletem opiniões. E eu posso achar que 1+1=11, mas isso não vai mudar nada no mundo, não (felizmente).
Por fim, é detestável a leviandade com que tratam o assunto. Como conclusão, fica a declaração de Carlos Alberto Riccelli sobre o tema: "O amor existe e dura para sempre. Ele existe para sempre, para a gente usar e abusar. Uma coisa é boa quando é cada vez melhor. Nada existe parado na vida. Tem que evoluir. A paixão é momentânea. Mas você pode viver uma história de amor com grandes momentos de paixão para o resto da vida. Muitos amores acabam por impaciência."
(E interessante colocação a de Francisco Daudt, no fim da reportagem: "É poligamia disfarçada. Cumprimos o papel de polígamos, mas com uma pessoa de cada vez." É o amor líquido? Mas isso é matéria pra outro post.)
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Convicções
(Saramago)
(achei enfim o trecho perfeito pra espaços de "quem sou eu")
quarta-feira, 1 de junho de 2011
No meio do caminho ele se perdeu
(talvez eu só ainda não tenha "despertado" pra não precisar encarar, no processo, a infelicidade)
sábado, 28 de maio de 2011
Historiar
sexta-feira, 27 de maio de 2011
(Sem título)
so he'll always be happy"
Talvez seja esse o problema: a descrença, a falta de esperança... o niilismo.
domingo, 22 de maio de 2011
O que eu mudaria no mundo
É isso o que eu mudaria... Tiraria as pessoas da apatia mórbida de meramente existir."
(e é tão estranho se deparar com seus próprios textos de vários anos atrás.. principalmente ao constatar que as opiniões são as mesmas.)
terça-feira, 17 de maio de 2011
Anti-convencionalidade confessada
Mas, ao mesmo tempo em que estranhos se transformam nas projeções dos mais profundos desejos das pessoas, também encarnam seus maiores medos. O desconhecido que pode se revelar o amor da sua vida é o mesmo que pode vir a ser seu maior inimigo -- ou de todas as pessoas, quem vai ter ferir mais profundamente. Então a cordialidade educada é apenas o primeiro passo -- o seguinte é o reflexo mais concreto do antigo conselho "não converse com estranhos": a auto-preservação compulsória. A qualquer sinal de um movimento brusco, de algum começo de sentimento agudo demais pra tão pouca convivência, de uma admiração inexplicada aos olhos de alguém que não procura entender motivos, o alerta é soado e as medidas de defesa, levantadas. A partir daí, nasce uma verdadeira Muralha da China, erguida para barrar avanços e só possível de ser transposta depois de muito, muito esforço.
E por quê?
Por medo. Porque criamos um mundo de faz-de-conta, abstração do mundo real almofadada por ilusões, que serve como filtro entre a realidade e nós mesmos -- como se a luz do dia lá fora fosse muito mais do que quem passou tanto tempo dentro da caverna pode aguentar e as sombras fossem tudo o que fosse suportável ver. E aí, mudanças bruscas no mundo-recriado não são aceitáveis -- abalam a estrutura da ilusão e causam um temporal de insegurança que ninguém quer pra si. Porque o mundo tem que fazer sentido... né?
E aí nos fechamos, para nós e para o mundo, receosos do calor e diferença que algo novo pode trazer. Algo inadmissivelmente imprevisto. Sem espaço pré-reservado, sem território demarcado no continente da alma.
Como se houvesse obrigação em comprometer-se. Como se a culpa por não ter emoções e sentimentos amarrados a quem quer que deseje se amarrar a nós fosse justificada. Justificada pela grande obrigação moral de corresponder.
Obrigação...
que não existe.
terça-feira, 10 de maio de 2011
O que vale é a intenção
Porque nem sempre o que é bom é indolor.
(e normalmente não é)
[melhor, não faz a gente perder a capacidade de sentir]
segunda-feira, 9 de maio de 2011
"i'm not telling you it's going to be easy...
domingo, 1 de maio de 2011
Crescimento
Abandonar seus sonhos e ideologias não é amadurecer: é morrer (mesmo continuando a respirar).
sábado, 30 de abril de 2011
Invisível
i mean, the moments when we truly
choose to go
at best, you might feel
a whisper
or the wave of a whisper
undulating down"
E aí a gente vai embora, sem saber o que fazer. Não, não assim explicitamente como uma ruptura programada, mas daquele jeito em que a gente simplesmente não está mais ali. E não, ninguém percebe.
sábado, 9 de abril de 2011
Quella parte vera che ogni favola d'amore racchiude in sè per poterci credere
"E raccontano che lui si trasformò in albero
e che fu per scelta sua che si fermò
la terra partorire fiori nuovi
così
fu nido per conigli e colibrì
il vento gl'insegnò i sapori di
di resina e di miele selvatico
e pioggia lo bagnò
la mia felicità - diceva dentro se stesso
-ecco... ecco... l'ho trovata ora che
ora che sto bene
e che ho tutto il tempo per me
non ho più bisogno di nessuno
ecco la bellezza della vita che cos'è
ma un giorno passarono di lì
due occhi di fanciulla
due occhi che avevano rubato al cielo
tutta la sua vernice
e sentì tremar la sua radice
quanto smarrimento d'improvviso dentro sè
quello che solo un uomo senza donna sa che cos'è
e allungò i suoi rami
per toccarla
capì che la felicità non è mai la metà
di un infinito
ora era insieme luna e sole
sasso e nuvola
era insieme riso e pianto
o soltanto
era un uomo che cominciava a vivere
ora era il canto che riempiva
la sua grande
immensa solitudine
era quella parte vera
che ogni favola d'amore
racchiude in sè
per poterci credere..."
domingo, 20 de março de 2011
Apesar de
quinta-feira, 3 de março de 2011
Verdades e concessões [a/c Dani Yoko]
-
"'A mentira é uma arma valiosa. E a verdade é sempre uma concessão arriscada.' Faço dessas palavras as minhas.
Mas ainda acredito que essa concessão, apesar de arriscada, valha a pena. E porque vale tanto, é que não se entrega de bandeja por aí. Que nos preservemos para a liberdade que um dia virá. O segredo é só não temer quando ela chegar e evitar correr o risco de ser eternamente para os outros o que não se é.
Eu te entendo. Completamente."
[Mas Dani, creio que há outro risco além de ter medo da liberdade e ser eternamente para os outros o que não se é: o de mostrar-se na hora errada e acabar tendo uma parte de si pisoteada por quem recebeu mais do que merecia e acabou sem saber como lidar com tamanha preciosidade. Porque a identidade é uma joia. Há de se estar preparado para ceder a sua -- mas também para receber a de alguém.]
terça-feira, 1 de março de 2011
Por algum tempo mais
"O Gabriel García Márquez dizia que escrevia para que gostassem dele. É possível. É mais exacto dizer que a gente escreve porque não quer morrer. Ser amado pelo outro não está na nossa mão; podemos escrever para que isso aconteça, e depois acontecerá ou não. Já que temos que morrer, que alguma coisa fique. Não é imortalidade… isso seria um disparate. Trata-se de um reconhecimento por algum tempo mais."
Público (Ípsilon), Lisboa, 7 de Novembro de 2008
In José Saramago nas Suas Palavras
Dos Outros Cadernos de Saramago: http://caderno.josesaramago.org/
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
y no encuentro forma alguna de olvidarte porque...
piensa en ti como lo hago yo
aunque te dé lo mismo"
(...seguir amándote... es inevitable)
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Dom Quixote moderno
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Escritores de domingo
-- Sim -- disse Mathieu com solicitude. -- Quer que lhe conte a história?
-- Acho que a conheço: era casado, tinha filhos, não é isso?
-- É! Trabalhava num banco e no domingo ia para o campo com seu cavalete e seus pinceis. Era o que chamamos 'um pintor de domingo'.
-- Pintor de domingo?
-- Sim. A princípio era isso. Um amador que borra telas no domingo, assim como a gente vai pescar. Mas por higiene, compreende, porque a gente pinta ao ar livre, respirando o ar puro.
Ivich pôs-se a rir, mas não com a expressão que Mathieu esperava.
-- Acha engraçado que ele tenha começado como pintor de domingo? -- indagou Mathieu inquieto.
-- Não, não era nele que pensava.
-- Em que então?
-- Eu estava pensando se a gente podia falar também em escritor de domingo.
Escritores de domingo! pequenos burgueses que escreviam anualmente um conto, ou cinco ou seis poemas, para pôr um pouco de ideal na vida. Por higiene. Mathieu estremeceu."
Então é isso que somos: escritores de domingo. Um pouco menos regulares, talvez: passando por períodos de maior ou menor inquietação que fazem os domingos aparecerem mais ou menos do que uma vez por semana; mas, ainda assim, escrevendo por esse mesmo motivo: por higiene.